Mãe sempre foi uma das coisas mais sagradas deste mundo, desde a mais de dois mil anos atrás e com certeza ainda o é. Mas temos algumas delas, que baseado no seu tipo de personalidade, difere um pouco e as vezes bastante. E dentro desta ideia, quero falar hoje de um tipo de mãe, onde suas características já as descrevem com muita facilidade e se tivermos um olhar perspicaz vamos compreender em que sentido é importante levar este tema ao conhecimento das pessoas.
Com certeza estou falando da mãe narcisista, que é um indivíduo com história de muita dor emocional e de vivência num meio familiar disfuncional.
Vamos falar um pouco das características deste tipo de mãe e com certeza vamos reconhecer as semelhanças. Mas quero que entendam que isto não bom e nem ruim, é diferente, mas que nas maiorias das vezes elas não tem nem um pingo sequer de culpa, pois o sistema disfuncional familiar onde cresceu, a fez introjeção de todas estas características.
Estou falando da mãe que pela vivência disfuncional ela sente uma dor que irradia para o coletivo familiar, onde ela tem uma grande possibilidade de ter um Transtorno de Personalidade, visto que tem uma necessidade exagerada de reconhecimento e admiração.
É a mãe que precisa ser o centro das atenções, onde o marido e filhos devem ser sua fonte de reconhecimento para aplacar sua angústia patológica. A família deve orbitar em volta dela. Outro ponto central é o sentimento de ser vítima, ela tem alta frustração, mágoas, e quase sempre espalha a ideia que os filhos são seus algozes.
Geralmente ela tem em mente, um grupo de pessoas ao qual ela cria uma persona muito positiva, para ser sempre admirada e cria outro, onde ela menospreza para se sentir superior, grande e poderosa (geralmente família);
Há momentos que tem ações cruéis por meio de palavras, de atos, comunicação não verbal e até mesmo agressões. Ela consegue instalar a “menos valia” e crenças limitantes nos próprios filhos, sempre os lembrando de que ninguém irá lhe irá querer ou então que os outros estão sempre certos.
Tem mãe narcisista que elege o filho de ouro, onde se identifica, enaltece, concede privilégios, mas o escraviza como fonte de retorno narcísico.
Tem mãe narcisista que aponta o filho bode expiatório, onde nega suas necessidades, proteção e reconhecimento e o transforma em culpado de tudo (Mecanismo de proteção negativa, negando os traços em si e culpando sempre os filhos).
É aquela que cria a disputa e a rivalidade entre os irmãos, manipulando atendimento só para si, para as suas próprias necessidades.
Note que quando uma mãe tem a maioria destas características, ela acaba deixando um rastro de consequências para seus filhos, e de novo, você vai perceber que estas consequências também se auto explicam e nos facilitam está percepção.
Estes filhos têm como ponto central, a carência, confusão e culpa e lhes parece que honrar e amar Pai e Mãe significa culpa, pela própria disfunção familiar. Para estes filhos parece que sempre tem um nó em suas cabeças, é o reflexo de papel social de uma mãe x mãe narcisista.
Para esses adolescentes é quase que como receber mensagens esquizofrênicas no paradoxo do amor x dor.
Eles sentem insegurança, menos valia, alimentam crenças limitantes, sentem rejeições e sentimentos de abandono.
Vivem na proibição de expressão dos sentimentos de raiva e medo, pois várias vezes ouviram a conhecida frase, engole o choro. Eles se sentem no papel de vilão, por terem imaginado ser filho algozes, que vivem entre o inadequado x adequado, o saudável x patológico e devemos entender que este sentimento vem das acusações que sua mãe narcisista os acusavam o tempo todo.
Então o filho se pergunta será que sou um problema? Dúvidas essas pela dificuldade de autonomia e auto-confiança. Precisamos torcer para eles não repliquem esta relação tóxica na escolha de futuros parceiros, para refazer esta relação em busca do amor e aceitação. Por serem reféns da mãe narcísica, eles têm ou sentem um vazio emocional, pois esta sombra feminina ameaçadora está sempre baseada no controle e desvalia.
Diante da atitude de mães com este tipo de comportamento, os filhos acabam por terem papéis de acordo com a exigência da própria mãe.
Falando nisso, muitos filhos acabam por assumirem papéis que, na maioria das vezes, não deveria acontecer desta forma. Veja na sequência estes papéis e algumas considerações que os caracterizam.
Papel do Filho Função ou Guardião – Trata-se do filho que tem uma meta, uma função ou um “cargo”. Por exemplo quando um filho é eleito, as vezes em idade precoce, para cuidar de alguém paralítico da família, de membros com câncer e este papel lhe é dado por que a mãe não pode ser feliz se o membro doente não estiver feliz.
Perceba que a criança adotou o papel dos seus pais, que ela amadurece em uma idade precoce e acaba por não viver a sua infância como uma criança normal. Nesta estrutura não há espaço para a criança exercer seu papel original de acordo com sua essência.
Observa-se que os pais destes filhos são emocionalmente imaturos e incapazes de tomar as rédeas das suas vidas.
O filho assume aquele falso ego, através da crença limitante, de que precisa ajudar, que o outro vai precisar sempre dele, senão não terá merecimento e não será amado se não for prestativo.
Tudo isso alimenta neste filho o conhecido mecanismo de defesa repressão, que envolve suas necessidades, sua agressividade e também sua sexualidade, além de estabelecer o vício emocional do orgulho quando pensa “você precisa de mim”, porque isso alimenta sua autoestima e acaba por fim, nunca aceitando ser ajudado, e ainda some-se a isso a sua auto-gratidão, “já que eu tenho que fazer tudo, eu mereço…”.
Este filho por outro lado, adquire qualidades como empatia, habilidade social, atenção, encoraja os outros, etc.
O papel do Filho Dourado – É o filho com características que a família valoriza e trará retorno, então é estimulado. É o filho referência. As outras características deste filho que coloca em risco a manutenção disfuncional da família, são aniquilados. A família disfuncional sabota suas potências.
E as consequências para este filho aparecem na forma de ter dificuldade de fazer um diagnóstico da realidade, a sensação inconsciente de que foi enganado, não confia em ninguém, pois viveu relações tóxicas que eram justificadas por amor, fica sempre preso a imagem de filho de sucesso, exemplar, mas tem pouco espaço fora do que a família espera e por fim, pode ser eleito o filho da mãe narcisista.
O papel do Filho Bode Expiatório – Este é o filho que contesta e não aceita a família disfuncional e toda esta dinâmica, e partir disso, a família se coloca em posição de vítima e o filho acaba se tornando como um espelho que revela que algo não vai bem, é como uma denúncia de um esquema falho. Este filho pode acabar sendo escolhido como o responsável por tudo que não vai bem.
Ele vai servir para carregar a culpa e livrar os demais de suas próprias culpas e angústias (“ele é o errado e não nós”), então passa a ser difamado e minado, apartado, enfim castrado.
Tem como consequência para ele, a dialética do culpado e algoz, passa a conviver com as crenças limitantes e acaba aceitando o papel que lhe deram e começa a se comportar de acordo. Tem uma rejeição muito profunda, talvez a maior de todas, fica conhecido como o “ovelha negra” e se torna extremamente carente e candidato a diversas patologias.
Processo de Cura
O nosso trabalho como terapeutas é árduo na busca de implementar processos de cura durante o trabalho no set terapêutico, visto que o uso da razão se torna de difícil compreensão para estes filhos que nasceram e vivem dentro deste tipo de família disfuncional, e o que é pior, sob a conduta de uma mãe que tem as características do narcisismo.
Nossas atuações têm que se basear no empoderamento destes filhos e fazê-los compreender e assimilar as mudanças necessárias para sair deste processo.
É preciso que eles compreendam e reconheçam esta relação tóxica, que é muito importante se livrarem da culpa, da vergonha, da menos valia, das crenças limitantes e combater a co-dependência e entendam que para o caso destas “vítimas” serem as filhas, tem uma projeção maior ainda.
É preciso que os filhos se desvinculem da figura narcísica, que aprendam a priorizar, e, que ainda assim, é preciso estabelecer limites empáticos e criar autonomia, bem como a liberdade.
É preciso se conectar com as emoções, aprender a ser digno de ser amado, criar maturidade e blindagem emocional. Saber o que é da mãe deles e o que é deles.
É preciso não replicar o papel da mãe narcisista e acima de tudo, perdoar a mãe narcisista.
Por Edson Cavichioli
Meu Deus,perfeito!!! O melhor artigo que já li sobre o assunto. Estou muito feliz,ao ler resolvi interrogações e conflitos em mim. Me ajudou d+!!! Parabéns,muito obrigada.