É inevitável. Comparar-se com o mundo é o meio usado para nos colocar num patamar superior ou inferior. Ao se colocar de maneira crônica em um patamar inferior, a algo ou alguém, está estabelecido a baixa autoestima.
Quando isso ocorre se instala o sentimento de “ser menos do que”, nos aspectos psicológico, físico, intelectual e social.
Todos estamos expostos de maneira pontual a sentimentos desse tipo devido a dúvidas sobre nós mesmos e, também devido a fatos desagradáveis que fazem parte da vida.
A diferença é que, quando se tem uma autoestima estabilizada, a capacidade de lidar com o problema e conseguir superar é maior, tornando assim a pessoa ainda mais autoconfiante pois se reforça a certeza de que problemas sempre existirão, mas que também sempre será possível resolve-los.
Mas se você tem baixa autoestima, ao invés de conseguir superar, a tendência é xingar, se lamentar, culpar o mundo. Acaba que, com essa atitude, a pessoa reforça ainda mais o sentimento de baixa autoestima pois ela não confere a si mesmo a responsabilidade e a capacidade de mudar a situação.
Pessoas com autoestima estável “sonham”, buscam, enfrentam e alcançam. Ao final desse ciclo são premiadas com sentimentos e sensações que trazem bem estar e isso reforça a autoconfiança e dá a manutenção necessária na autoestima.
Já as pessoas com baixa autoestima começam cada vez mais “sonhar” menos. Dessa forma evitam correr o risco de se frustrarem, mas para isso reforçam cada dia mais a crença de que certas coisas não são pra elas, que são somente para as pessoas melhores que elas. É um ciclo, quanto mais me decepciono comigo mesmo, mais desanimado e vulnerável fico, me motivo menos e reforço a minha inferioridade.
Sentir-se inferiorizado de vez em quando faz parte da natureza humana. A questão é como reagir a esses sentimentos. Eles o motivam a aprender e a tentar fazer melhor? Ou eles fazem você ruminar e se fechar? Ou talvez ainda pior, eles fazem você sentir ciúme dos outros e rebaixá-los para se fortalecer? Ou sempre culpar os outros por coisas pelas quais você deve assumir responsabilidade pessoal?
Se você se identifica com frequência com alguns dos sinais abaixo você pode estar com a autoestima baixa:
– Foca repetidamente em pensamentos que são perturbadores;
– Se fecha por vergonha, culpa, constrangimento ou um sentimento interior de derrota;
– Tem se afastado de colegas de trabalho, amigos ou familiares;
– Culpa os outros pelos seus sentimentos de isolamento e fracasso;
– Sente-se responsável pelas deficiências e falhas das outras pessoas;
– Procura atenção e validação fingindo estar doente, deprimido;
– Evita qualquer tipo de competição onde seus esforços possam ser diretamente comparados com os de outros (pessoas com baixa autoestima não gostam de correr riscos);
– É extremamente sensível a elogios e críticas.
A causa da baixa autoestima está ligada a uma combinação de fatores:
– Predisposição genética: variação no receptor de ocitocina, hormônio que contribui para emoções positivas, para a melhora do humor, da interação social, da diminuição da ansiedade, entre outros sintomas;
– Experiências vividas durante as fases de formação da personalidade, principalmente na adolescência: postura altamente crítica dos pais/cuidadores pode estabelecer crenças negativas e limitantes na criança, atrapalhando o desenvolvimento normal da personalidade;
– Comparações com padrões irrealistas da sociedade vindos de anunciantes, mídias sociais, celebridades e outras figuras de autoridade que podem criar ou reforçar percepções equivocadas e levar a dúvida sobre si mesmo (imposição e cobranças de como devemos ser e agir: tamanho e cor de nossos corpos, posição social, que carro ou celular deveríamos ter, como deveríamos nos vestir, etc). Pessoas com autoestima muito baixa tendem a se comparar mais com os outros, e é óbvio, apenas com as pessoas mais bem-sucedidas naquilo em que se sente envergonhado, impotente ou fracassado.
A comparação é tão imposta pela sociedade chegando ao ponto de desfigurar nossa personalidade e confundirmos sentimentos ou crenças com fatos (ex.: eu não me acho atraente, então devo ser feio).
O processo para estabilização da autoestima deve começar pela compreensão realmente profunda de onde vem o sentimento de diminuição e inferioridade. Descobrir os eventos que causaram os primeiros sentimentos de inferioridade e, também os demais eventos que vieram reforçar essa percepção sobre si mesmo, é o início desse processo.
Obter a compreensão daquilo de negativo que nos ocorreu e estabelecer um novo olhar sobre esses eventos, de forma a conseguir elaborar e superar cada um deles, é o caminho para re-estabilizar a autoestima.
Como sempre, toda mudança de comportamento e percepção sobre si mesmo, e sobre a vida, é trabalho árduo. Envolve enfrentamento e dedicação, pois somente com a repetição frequente de novos comportamentos pode se adquirir novos hábitos.
Se tiver de comparar, compare-se a si mesmo na busca de uma versão mais atualizada e melhor a cada dia.
Por Silvio Oliveira