A sigla ou acrônimo VUCA, apareceu por volta dos anos 80 quando foi introduzido sob teorias de liderança, sendo esse conceito utilizado pelo exército americano ao final da guerra fria. Porém, no início dos anos 2000 é que o termo começou a ser mais utilizado e discutido e posteriormente, acabou por ser aplicado à uma ampla gama de organizações e corporações com fins lucrativos. O seu significado se refere à:
V: Volatilidade – se refere à velocidade de mudança em uma indústria, mercado ou no mundo em geral. Está associada a flutuações na demanda, turbulência e pouco tempo para chegar aos mercados, o próprio dinamismo da indústria.
Quanto mais volátil o mundo, mais e mais rápido as coisas mudam.
U: Incerteza (do inglês Uncertainty) – se refere ao quanto realmente podemos prever o futuro com precisão. Parte da incerteza é percebida e associada à incapacidade das pessoas de entender o que está acontecendo. Ambientes verdadeiramente incertos são aqueles que não permitem qualquer previsão nem com ajuda da estatística.
Quanto mais incerto o mundo, mais difícil é prevê-lo.
C: Complexidade – refere-se ao número de fatores que precisamos levar em consideração, sua variedade e as relações entre eles. Quanto mais fatores, maior sua variedade e quanto mais eles estiverem interconectados, mais complexo é o ambiente. Em alta complexidade, é impossível analisar totalmente o ambiente e chegar a conclusões racionais.
Quanto mais complexo o mundo, mais difícil é analisá-lo.
A: Ambiguidade – se refere à falta de clareza sobre como interpretar algo. Uma situação é ambígua, por exemplo, quando a informação é incompleta, contraditória ou muito imprecisa para tirar conclusões claras.
Quanto mais ambíguo é o mundo, mais difícil é interpretá-lo pela sua imprecisão.
Na prática, os quatro termos estão inter-relacionados. Quanto mais complexo e volátil for o mundo, por exemplo, mais difícil de prever e, portanto, mais incerto será. Ainda assim, todos os quatro representam elementos distintos que tornam nosso ambiente, o mundo – um mercado, uma indústria, uma empresa – mais difícil de entender e controlar.
Recentemente, o conceito de “mundo VUCA” tem ganho popularidade como um termo para cobrir as várias dimensões desse ambiente “caótico” em que vivemos. Em vários posts e artigos, lemos, por exemplo, sobre o “mundo VUCA” e, em particular, sobre “Liderança em um Mundo VUCA.” Mas o que realmente significa liderar em um mundo VUCA?
Em geral, as premissas do VUCA tendem a moldar a capacidade dos colaboradores de uma organização para:
-Saber antecipar constantemente os problemas que surgem;
-Entender as consequências de problemas e ações;
-Conhecer a interdependência das variáveis
-Preparar se para realidades e desafios alternativos;
-Interpretar, abordar e atuar em oportunidades relevantes;
Assim, algumas competências pessoais, (conjunto formado por Conhecimento, Habilidade e Atitude), permitem lidar melhor com o “mundo VUCA”, como por exemplo:
Para lidar melhor com a Volatilidade, ou seja, a natureza e dinâmica de mudanças, o melhor seria a Resiliência.
Para lidar melhor com a Incerteza, ou seja, a falta de previsibilidade e o efeito surpresa, o melhor seria a Flexibilidade.
Para lidar melhor com a Complexidade, ou seja, a confusão que cerca o mundo, o melhor seria a Multidisciplinaridade.
Para lidar melhor com a Ambiguidade, ou seja, a nebulosidade da realidade, o melhor seria a Coragem.
Mas você pode alterar ou incluir mais características ou adjetivos que desejar ser mais apropriado para lidar com o mundo VUCA, agora que você entendeu a teoria.
Entretanto, não podemos esquecer que como estamos tratando da análise do mundo, uma vez que o termo é “mundo VUCA”, temos que lembrar que o mesmo não começou nos anos 80 junto com a teoria VUCA, muito menos quando nascemos, mas carrega milênios em conjunto com os seres humanos e suas formas de relacionamento e sociedade. Agora, dizer, acreditar e viver o sentido que o mundo está ficando cada vez mais e mais VUCA, ou seja, cada vez mais Volátil, mais Incerto, mais Complexo e mais Ambíguo é omitir a antropologia substituindo-a, à uma análise da sua própria geração onde chega a ser uma análise narcísica, digna do Transtorno de Personalidade Narcísica, (a ser detalhado nos próximos posts), pois apenas vejo e me interesso pelo que sinto, sou afetado e vivo agora. A outra alternativa possível é a sensação de que as coisas que antes eu achava que estava sob meu controle, não mais estão sob o meu controle ou no mínimo que o controle agora é mais compartilhado. Sensações oriundas do nível inconsciente, o que é um sinal muito bom, diga-se de passagem, pois finalmente há um alargamento da consciência apontando para mostrar a realidade além do que a racionalidade do nível consciente consegue enxergar.
“A inflação patológica depende naturalmente de alguma fraqueza da personalidade, diante da autonomia dos conteúdos do inconsciente coletivo”. C.G. JUNG.
Digo isso, pois tenho que lembrar o leitor, que na história da humanidade a relação humana sempre foi Volátil, Incerta, Complexa e Ambígua. Desde sempre onde o humano esteve presente! E um pouco de história sempre é bom para recordar o que aconteceu no passado, por isso indico uma obra prima da literatura mundial se você quiser se aprofundar na história VUCA da humanidade, que está fazendo 700 anos este ano onde pode ser observado pelas notas de rodapé, as explicações do que acontecia naquela época. É a obra de Dante Aliguieri intitulada A Divina Comédia. Pra quem prefere as produções cinematográficas, os filmes envolvendo as guerras, situações graves de fome, doenças, misérias, etc, bem aí pertinho da nossa própria história de vida. Estes são poucos exemplos, mas agora que você também entendeu que o VUCA está ligado diretamente ao ser humano, pode buscar outras fontes históricas, até mesmo histórias milenares de civilizações inteiras que desapareceram.
Voltando ao “nosso mundo” atual, VUCA da mesma forma que os “mundos” anteriores, algumas organizações despreparadas, (leia-se gerência hierarquia acima), promovem a teoria do mundo VUCA com o único objetivo de fazer um verdadeiro terror velado em alguns casos e latente em outros, em seus colaboradores, desrespeitando leis, com exigências e demandas cada vez mais bizarras e assim justificar as suas próprias deficiências pessoais, se escondendo atrás de uma cortina chamada “mundo VUCA”, deixando para trás o adequado desenvolvimento de seus funcionários, despreparando-os e adoentando-os. Nestes casos, a vivência neste tipo de empresa se assemelha muito à um conto de fadas do tipo Chapeuzinho Vermelho, só que para adultos. A diferença é que pelo menos no conto original, o Lobo morre no final e as crianças ficam livres do mal. Pior para os adultos.
“Em sua identificação com a psique coletiva, ele tentará impor aos outros as exigências do seu inconsciente, uma vez que esse tipo de identificação acarreta um sentimento de validez geral (‘semelhança a Deus’)”. C.G. JUNG.
E você? Como tem sentido o mundo ultimamente? Mais VUCA? Então será que não foi o nível do conjunto que compõe a sua Resiliência, Flexibilidade, Multidisciplinaridade e Coragem que reduziu inconscientemente? Ou será que você está conscientemente começando a perceber que não pode controlar tudo o que idealizou que controlaria?
“A experiência no campo da psicologia analítica nos tem mostrado abundantemente que o consciente e o inconsciente raramente estão de acordo no que se refere a seus conteúdos e tendências”. C.G. JUNG
Por Glaucio Parazzi