A mágoa nada mais é do que, a continuação do sofrimento depois do término de uma experiência desagradável. É o sentimento negativo que fica atrelado àquela lembrança, que deveria ser apenas um traço mnésico, ou seja, uma memória pura.

E, justamente por não ser uma memória pura, ao ser lembrada, ela traz junto o sentimento de sofrimento que está atrelado.

Eliminar as mágoas existentes e evitar novas mágoas não é uma tarefa fácil, mas é possível através de um processo contínuo de revisão e harmonização de nossos conteúdos psicológicos.

No começo pode ser bem trabalhoso, principalmente porque não adquirir novas mágoas não é uma ação e sim um estado psicológico. Poderia ser comparado com um aplicativo de celular, que requer constantes atualizações.

Guardar mágoa é como caminhar com uma corda amarrada na cintura, puxando uma grande pedra pelo chão na outra ponta. Parece que sempre se está na subida, exige mais esforço, às vezes a gente se acostuma e até esquece, mas vira e mexe acaba enroscando pelo caminho e, nos faz olhar pra trás pra desenroscar e poder seguir em frente.

A pedra representa a mágoa, o tamanho da pedra representa a intensidade da mágoa, o esforço para puxar a pedra é o quanto de energia se gasta (desperdiça) com essa mágoa e, a corda é a estrutura egocêntrica que mantém a pessoa ligada a mágoa.

Por mais que a causa do problema pareça óbvio na situação acima, na vida real pode levar tempo para perceber o que está acontecendo e, muitas vezes, mesmo após descobrir qual é a causa da mágoa, requer tempo para solucionar, ou seja, desinvestir (desligar) a energia sobre a mágoa e deixar de sofrer.

Durante esse tempo, o preço que se paga é a perda de bem estar de quem está magoado, podendo atingir também quem convive próximo.

Sim, quem está próximo também pode sofrer pois, ao se sentir magoado perde-se a percepção do presente, já que a pessoa fica mais ligada ao passado e, a falta de percepção do presente acaba por empobrecer as relações da vida (pessoal, familiar, social, profissional).

Toda vez que a energia vital (nosso combustível) não é investida (direcionada) para a vida e sim para “carregar” uma mágoa, perde-se ainda mais a capacidade de lidar com novas contrariedades, o que nos deixa ainda mais suscetíveis a formar novas mágoas.

O caminho para se “livrar da mágoa” é a elaboração da experiência desagradável para se chegar ao perdão (parar de sofrer ao lembrar da experiência desagradável).

A elaboração acontece pela flexibilização das estruturas egocêntricas, estruturas essas que, não permitem a compreensão empática de uma experiência desagradável.

Não significa passar a gostar daquilo que não foi bom, mas ter uma nova percepção sobre aquela experiência e não sofrer ao lembrar. É o trabalhoso processo de conseguir amar mesmo não gostando.

Entre evitar guardar uma nova mágoa, elaborar a já existente ou mesmo “conviver” com ela, tem-se alguns caminhos:

– Perlaboração: ao enfrentar uma experiência desagradável a pessoa não gosta e também não compreende. Pode levar muito tempo, em alguns casos uma vida toda (“ou mais”) para se estabilizar emocionalmente frente ao evento desagradável. Somente quando conseguir elaborar as suas estruturas egocêntricas, alcançará um estado psicológico mais harmonizado, para poder exercer a compreensão empática dos porquês e perdoar.

– Elaboração: ao enfrentar uma experiência desagradável a pessoa não gosta e, não compreende num primeiro instante. Mas logo em seguida, pela recuperação de um estado mais racional e harmonizado do ego (mais paciente, tolerante e resignado), elabora através da compreensão empática dos porquês e, consegue perdoar.

– Princípio da inofendibilidade: ao enfrentar uma experiência desagradável, a pessoa não gosta, porém se mantem harmonizada pela capacidade de não se ofender, através da compreensão empática dos porquês e contrariedades da vida. Dentro desse princípio a pessoa não está reativa e nem passiva, e sim está pacífica. Não precisa perdoar porque não chega a se magoar (é um estado muito evoluído do ser).

– Sublimação: frente ao desagradável que está acontecendo, e que pode continuar por muito tempo (em alguns casos uma vida toda), a pessoa não gosta e não compreende. Contudo consegue desinvestir a energia do desagradável direcionando diretamente para outro foco, outra realização. É uma ação muito trabalhosa, mas em alguns casos, é a única maneira de não adoecer devido a uma mágoa.

Estou falando de situações desagradáveis e crônicas causadas por alguém e, também de situações inerentes a vida como por exemplo, ter um problema sério de saúde dentro da família ou consigo mesmo.

Nesses casos, ao não conseguir sublimar, é como se a pessoa se magoasse cronicamente por um mesmo motivo, podendo chegar a um trauma ou outra patologia.

Como vimos, superar uma mágoa pode ser um trabalho árduo. A busca sempre será por alívio total através da eliminação da “pedra”, mas como perdoar é um processo, ter a chance de diminuir o tamanho da “pedra” pode ser um ganho significativo, aliás, ganho que trará bem-estar e energia para continuar o processo de elaboração afim de um dia não mais se magoar.

Então, por quanto tempo pode durar uma mágoa?

Acho que cada um terá de “tentar” responder por si mesmo pois, as pedras podem ser diferentes e, perdoar é uma capacidade e mérito de cada um.

Por Silvio Oliveira

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

RSS
Follow by Email
Instagram