Bem estar e qualidade de vida tem relação direta com o resultado de nossos estados psicológicos frente aos eventos da vida. Não temos controle sobre tudo, porém quanto mais nos conhecemos e evoluímos melhores serão as respostas aos eventos da vida.
Em uma certa escala temos o controle sobre esses eventos e em outra escala temos influência sobre esses eventos. Sim, sempre sobrará uma parcela de eventos em que não teremos o menor controle ou influência sobre, mas não é sobre esta parcela que gostaria de falar e sim da parcela que importa, a parcela que nos cabe, a parcela que influenciamos e fazemos acontecer da nossa maneira por conta de nossa percepção, aprendizado, escolhas, ações e principalmente nossos comportamentos.
Melhorar os estados psicológicos diante da vida através do autoconhecimento deveria ser um ciclo de evolução contínuo considerando que o mundo nunca para de mudar e exigir adaptação de nós.
Pois bem, os estados psicológicos definem comportamentos, e digo ”estados” no sentido de vários, de que mudam, de que oscilam entre sentimentos de maior ou menor potência e capacidade diante da vida, ou seja, a forma como me coloco e reajo frente aos problemas, contrariedades e desafios.
Dentre os problemas de saúde mental, que mais comprometem nossa capacidade diante da vida, estão os transtornos de humor.
Observados a mais de 2.000 anos, desde a antiguidade grega, os transtornos de humor já causavam sofrimento e incapacidade diante da vida porém sob o nome de melancolia.
Na época a explicação para a causa da melancolia era a crença sobre a existência de uma bile negra, que ao se tornar presente em quantidade excessiva e repentina no corpo humano, causava os sintomas. Daí o termo melancolia advindo do grego (Melan=Negro e Cholis=Bílis). Entre os religiosos da idade média a melancolia era reconhecida como um adoecimento espiritual.
No final do século XIX a doença mental passou a ser tratada como patologia orgânica do cérebro. Após esse período, veio um novo olhar sobre os transtornos de humor, um olhar psicoterapêutico, trazido por Freud no entendimento e tratamento através dos fundamentos da psicanálise.
Na metade do século XX acontece o avanço na descrição e classificação das doenças mentais, a descoberta das características biológicas e a ação de substâncias químicas (fármacos). O surgimento do termo depressão e a dissolução da melancolia na classificação diagnóstica dos transtornos de humor aconteceu nessa fase.
Com o aprofundamento do entendimento dos transtornos mentais ao longo do tempo, chegamos nos dias atuais com uma melhor compreensão dos seus sintomas, causas e por consequência também dos seus tratamentos.
Os transtornos de humor (depressão e bipolaridade), tem causas multifatoriais de origem endógenas (neurobiológicas, genéticas) e exógenas (psicossociais), com forte relação de interpendência entre esses fatores.
Pessoas com transtorno depressivo podem apresentar:
• Como sintomas principais
– anedonia (falta de vontade e prazer em fazer as coisas);
– humor hipotímico (tristeza, vazio, desesperança)
• Outros sintomas que acompanham o quadro
– sentimento de inutilidade e culpa, perda de energia;
– aumento ou perda de apetite e peso;
– pensamentos de morte/suicídio.
Pessoas com transtorno bipolar podem apresentar:
• Episódios de mania
– humor expansivo, irritável, muito falante, grandiosidade;
– redução da necessidade de sono, pensamentos acelerados;
• Episódio de hipomania
– similar a mania porém em grau mais leve;
• Episódio depressivo;
– episódios mistos oscilando entre estados de mania e depressão
(mudanças rápidas de humor).
Assim como as causas do transtorno são multifatoriais, o tratamento normalmente também se faz necessário em mais de uma frente.
Pessoas com vários dos sintomas indicados acima de maneira persistente, recomenda-se a busca por profissionais na área de psiquiatria e psicoterapia, afim de avaliar necessidade de tratamento farmacológico e ou psicoterapêutico.
Entre os transtornos mentais a depressão, como representante da categoria dos transtornos de humor, é o transtorno que mais afeta a saúde mental no mundo.
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) 4,4% da população global (aproximadamente 322 milhões de pessoas) sofre com depressão, incidindo significativamente em pessoas dos 15 aos 80 anos e tendo como pico de incidência pessoas entre 55 e 74 anos. Em todo o espectro de incidência as mulheres são as mais atingidas. O transtorno atinge cerca de 5,1% das mulheres contra 3,6% dos homens.
Assim como outros transtornos mentais, os transtornos de humor podem privar as pessoas de ter um curso mais saudável da vida, impondo sofrimento e criando restrições ao desenvolvimento normal da vida para si e refletindo sobre a vida dos que com ele convive.
Por outro lado, uma vez identificado o problema, é possível eliminar ou reduzir significativamente os sintomas através de tratamentos psiquiátricos e psicoterapêuticos de forma que o indivíduo possa retomar e seguir sua vida.
Quanto mais cedo a identificação dos sintomas e a procura de profissionais para início do tratamento melhores serão os resultados.
Outro ponto importantíssimo, para a melhora de quem sofre com transtorno de humor, é poder contar com uma melhor compreensão do problema pelas pessoas que vivem junto ou próximo.
Sim, o amor através da empatia, paciência e respeito em relação ao próximo é, e sempre será, um remédio essencial para a cura das dores da “alma”.
Por Silvio Oliveira