Ao ser questionado sobre qual seria o ponto em que nossas metas podem passar do limite e virarem uma obrigação, é preciso esclarecer que o estabelecimento de metas precisa ter uma função na vida das pessoas. Se este, no decorrer de sua história de aprendizagem, ao preparar seus objetivos, foi forçado positivamente pelo meio em vive, ou seja, obtiver resultados bons para sua sobrevivência por cumpri-los, junto com a aprovação dos pais, cuidadores ou pessoas das demais relações, é provável que passe a estabelecer novos desafios, diante das possibilidades de receber os mesmos resultados.

Entretanto, cumprir as metas nem sempre depende do esforço pessoal, mas de uma série de variáveis que precisam contribuir para o sucesso da ação, é provável que diante de situações onde teve falha, o mesmo indivíduo, que em outro momento sentiu-se motivado à repetição do comportamento, passe a demonstrar mais insegurança, chegando até mesmo a ter sintomas de ansiedade, ao empreender ações semelhantes.

Neste caso, pode ser desenvolvido um padrão de auto cobrança excessiva, visando a garantia dos resultados positivos, assim, metas passam a ser obrigação e se transformam em auto regras ou conceitos que criamos a partir de nossas experiências de vida e que servem, de caminho para as nossas ações, para assim, facilitarem nossa sobrevivência.

Aos 20 anos de idade, é geralmente o momento ou fase de conquistas, de buscar nosso espaço no mundo, e, com isso, é inevitável imaginar o que aconteceria se não conquistássemos nada aos 30 anos. Neste mundo imediatista em que vivemos, que nos força a busca pelo alcance de resultados rápidos, muitas vezes é comum que as pessoas desenvolvam um padrão de baixa tolerância à frustração e se desgastem em função de atingir os resultados foram idealizados antes de estarem preparados para este fim.

Buscando a inserção no mercado de trabalho é comum que os estudantes, desde muito cedo sejam estimulados a obter altos rendimentos escolares, que tenham oportunidades o quanto antes ao ingresso de um curso de graduação diferenciado, que supostamente trará a garantia de um futuro promissor e melhor.

O tempo, que precisaria também ser usado para a preparação de outras habilidades, até mesmo a de brincar, de aprender a descansar quando for possível, mas percebemos que muitas vezes são substituídos por uma dura rotina de estudos que acaba por ficar associada a esforço e não ao prazer. Sendo assim, nem sempre o alcance do objetivo previamente estabelecido torna-se causa de felicidade.

É comum vermos pessoas trocando várias vezes de curso ou até de profissão por descobrirem que aquilo que parecia ser a garantia de uma satisfação, terminou deixando a desejar. E, quando o aniversário de 30 anos é motivo de preocupação, notamos claramente uma distorção da realidade, afinal, se observa que a nossa vida produtiva está cada vez mais longa, especialmente devido aos recursos da medicina, que estão sendo usados em favor desta finalidade.

O sofrimento por adentrar na casa dos trinta anos pode ser um sinalizador de que a pessoa desenvolveu um padrão de autoestima inseguro, e isso não ajuda a identificar com clareza sua função no mundo. Neste caso, a ajuda profissional será sempre benvinda.

A Terapia Comportamental pode ser por exemplo, um importante recurso para a promoção de autoconhecimento, porque isso favorece o entendimento de como foi construído o padrão de aprendizagem individual e o que estaria sustentando estas regras disfuncionais criadas, para que se possa desenvolver e treinar novas possibilidades de posicionamento nos diferentes contextos.

Então, como estabelecer metas mais realistas sem ficar com a sensação de ser condescendente com você mesmo? Diria que devemos estabelecer metas que tenham relação com o que pode trazer benefício próprio. Entendo que é condição para a construção de uma autonomia de treino para o estabelecimento de uma escala de prioridades, na qual a nossa saúde individual precisa estar em primeiro lugar.

Para este treinamento é necessário o reconhecimento e o respeito aos limites individuais de cada um. Não é correto e prático estabelecer uma meta que não se pode cumprir, por exemplo cursar duas ou três faculdades ao mesmo tempo, a fim de realizar o desejo do pai ou da mãe. Ainda que seja possível, à custa de muito esforço, cumprir o proposto, não há como não sofrer com as consequências.

O reconhecimento dos próprios limites, além de ser muito importante, sinaliza as suas possibilidades, incluindo a capacidade de dizer não quando necessário, são importantes fatores para a promoção do estabelecimento de metas seguras, possíveis de serem cumpridas. Entender que nas relações isso não é uma atitude egoísta, mas uma sinalização de amor próprio, que é essencial para o desenvolvimento de um posicionamento pessoal e seguro no mundo.

Com a evolução das nossas idades, 20, 30 ou 40 anos precisamos nos cobrar menos, porém relaxar e desanimar não é o caminho, mas quanto mais rígida for a pessoa, maior será a sua dificuldade para se permitir relaxar.

Crenças populares conhecidas como, Deus ajuda quem cedo madruga, podem favorecer  a criação de uma regra automática de que não se pode parar nunca, por medo de se perder algo de valor. O importante é começar a auto-observação de nossos comportamentos de rigidez e, na medida que for possível, perceber as atitudes diferentes que se tornaram padrão, mas que não funcionaram ou que não funcionam.

Não é necessário esperar um feriado para descansar a mente destas auto cobranças, é possível fazer isso a cada dia, um pouquinho de cada vez, se permitindo pequenos prazeres, como parar e ouvir música por cinco minutos ou ir para a cama meia hora mais cedo, apenas para ficar deitado, relaxando. Deste jeito vamos treinando novas possibilidades de agir e realizando algum aprendizado sobre novos comportamentos.

Sempre notamos também a comparação com os amigos, que, segundo nosso olhar, o vemos mais bem sucedidos e assim nossa autoestima pode virar um problema. Dentro disso e por necessitarmos do convívio social, nem sempre é possível evitar esta comparação. No entanto, é possível fazer treinos de auto-observação e priorize as próprias necessidades, que nos auxilie na escolha de relações que sejam mais funcionais para nossas vidas.

Quando nos sentimos mais seguros para com nossas escolhas, quando reconhecemos de fato as próprias necessidades, se torna mais fácil selecionar ambientes e relações que favoreçam a nossa autoestima. Se relacionar, como em qualquer outro comportamento, passa por um esquema interno de aprendizado, que construímos ao longo de nossas  vidas.

Pessoas muito cobradas ou que viveram em meio de famílias com muita tensão e com poucos modelos de carinho, incentivo e acolhimento, podem ter muitas dificuldades para colocarem as suas próprias necessidades como prioridade, o que implicaria em se colocar no mundo de uma forma mais assertiva, dizendo não para o que não ajuda na construção da autonomia.

Seguindo este roteiro, deparamos as vezes com as crises da meia idade, mas em primeiro lugar, é necessário começar a aceitar que dificilmente somos capazes de atingir o ideal porque este existe somente na imaginação de cada um de nós. O que podemos, de fato, é realizar o que é possível e dentro de nossas condições individuais, lembrando que isso sempre pode ser modificado, de acordo com a nossa necessidade e dentro do contexto que se apresenta e a capacidade de cada um.

Uma pessoa que treina o autoconhecimento se encontra sempre em vantagem sobre as demais, uma vez que consegue selecionar aquilo que pode trazer benefício para si próprio, bem como evitar aquilo que traz sofrimento. Nem sempre é sinal de fracasso não alcançarmos o padrão de felicidade imposto culturalmente.

Desde que tenhamos consciência das nossas próprias necessidades, é possível ser feliz, mesmo que não sejamos parecidos com a família do comercial de margarina ou o carro mais desejado do momento. Aprender a relaxar, por exemplo, pode ser um grande aliado neste processo, uma vez que um padrão de ansiedade dificulta nosso posicionamento assertivo no mundo.

Tire uma horinha do seu tempo para realmente deixar o relógio de lado, durma um pouco mais, alimente-se melhor, esteja com pessoas com quem tem vontade de esta, sem culpa, porque sua saúde assim exige.

 

Por Edson Cavichioli

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