Os mecanismos de defesa do ego são ruins ou as vezes necessários?
Primeiramente é importante entender que os mecanismos de defesa são comportamentos que as pessoas usam para se proteger de situações, ações ou pensamentos desagradáveis. São estratégias psicológicas que podem ajudar as pessoas a evitarem ameaças ou sentimentos indesejados.
Conforme a teoria de Freud, os comportamentos de mecanismos de defesa são desenvolvidos de maneira inconsciente, ou seja, não está sob o controle consciente da pessoa, na maioria das vezes a pessoa age “sem perceber”.
São comportamentos desenvolvidos para defender o ego (se defender) em determinadas situações onde ele não é capaz de enfrentar (ou não se acha capaz). Em situações que de fato o ego (a pessoa) está vulnerável e, pode se expor de maneira negativa muito grande como, culpa, vergonha, humilhação, etc, o uso de algum mecanismo de defesa acaba sendo necessário para que se evite um trauma ou formação de alguma crença limitante sobre si mesmo.
O uso desses comportamentos como defesa do ego é normal e até necessário como parte do desenvolvimento psicológico do ser humano, são eles que nos protegem de situações de risco psicológico até que se atinja determinada autonomia emocional.
Por outro lado, o uso desses comportamentos de forma constante, principalmente se for de maneira consciente, acaba sendo um grande empecilho para o desenvolvimento e evolução da pessoa, já que através deles acaba-se esquivando dos enfrentamentos da vida.
Saber identificar quais mecanismos de defesa você e as pessoas de convívio próximo usam, pode ajudar no seu desenvolvimento e nas suas relações pessoais, sociais e profissionais.
Muitos são os mecanismos de defesa utilizados por todo mundo e todo dia, com menor ou maior frequência, dependendo do nível de evolução da pessoa.
Abaixo alguns mecanismos muito comuns:
Negação
A negação é um dos mecanismos de defesa mais comuns. Ocorre quando você se recusa a aceitar a realidade ou os fatos. Você bloqueia eventos ou circunstâncias externas de sua mente para que não tenha que lidar com o impacto emocional. Em outras palavras, você evita os sentimentos ou eventos dolorosos. A pessoa evita a realidade mesmo sendo óbvio para as pessoas ao redor.
Repressão
Pensamentos desagradáveis, memórias dolorosas ou crenças irracionais podem perturbá-lo. Em vez de enfrentá-los, você pode escolher inconscientemente escondê-los na esperança de esquecê-los totalmente.
Isso não significa, entretanto, que as memórias desapareçam totalmente. Elas podem influenciar comportamentos e podem afetar relacionamentos futuros e, você pode nem perceber que isso está acontecendo.
Projeção
Alguns pensamentos ou sentimentos que você tem sobre outra pessoa podem deixá-lo desconfortável. Se você projetar esses sentimentos, poderá atribui-los de maneira equivocada à outra pessoa.
Ex.: você pode não gostar de um colega de escola, mas, em vez de aceitar isso, opta por dizer a si mesmo que é ele que não gosta de você.
Deslocamento
Você direciona fortes emoções e frustrações para uma pessoa ou objeto que não é ameaçador. Isso permite que você satisfaça um impulso de reação, mas você não corre o risco de consequências significativas.
Um bom exemplo desse mecanismo de defesa é “descontar” (raiva), em seu filho ou cônjuge, de um dia ruim de trabalho que você teve. Nenhuma dessas pessoas é o alvo de suas emoções fortes, mas reagir a elas provavelmente é menos problemático do que reagir a seu chefe.
Regressão
Algumas pessoas que se sentem ameaçadas ou ansiosas podem inconscientemente “escapar” para um estágio anterior de desenvolvimento.
Esse tipo de mecanismo de defesa pode ser mais óbvio em crianças pequenas. Se elas experimentam trauma ou perda, eles podem repentinamente agir com comportamentos de uma criança ainda mais nova, podem inclusive a voltar a ter hábitos já superados como fazer xixi na cama ou chupar o dedo.
Os adultos também podem regredir se infantilizando. Em alguns casos podem voltar a dormir com um bicho de pelúcia querido, comer em excesso alimentos que consideram reconfortantes.
Racionalização
Algumas pessoas podem tentar explicar comportamentos indesejáveis com seu próprio conjunto de “fatos”. Isso permite que você se sinta confortável com a escolha que fez, mesmo que saiba em outro nível que não está certo. É a tentativa de explicar o que fez e que não deveria ter feito.
Formação reativa
As pessoas que usam esse mecanismo de defesa reconhecem como se sentem, mas optam por se comportar de maneira oposta aos seus instintos temendo uma censura/punição social.
Ex.: ao estar parado no trânsito, devido a congestionamento, ter uma atitude exacerbada de indignação e raiva ao ver alguém cortar caminho pelo acostamento, pode na verdade estar mostrando o desejo reprimido de também querer cortar caminho.
Intelectualização
Quando você é atingido por uma situação difícil, você escolhe remover todas as emoções de suas respostas através do uso da razão. É a explicação lógica que se dá para si mesmo para evitar as emoções diante da situação.
Sublimação
Esse tipo de mecanismo de defesa é considerado uma estratégia positiva. Isso ocorre porque as pessoas que usam esse mecanismo optam por redirecionar emoções ou sentimentos fortes para um objeto ou atividade que seja apropriado e seguro.
Ex.: em vez de atacar seus funcionários, você opta por canalizar sua frustração para alguma atividade como música, arte, exercícios físicos ou mesmo um engajamento em alguma atividade de caridade.
Em menor ou maior frequência, os mecanismos de defesa sempre estarão presentes em nossas vidas, porém é necessário entender o quanto eles podem causar sofrimento e prejuízos a nós mesmos e/ou as pessoas com quem nos relacionamos.
Aliás, tais prejuízos deveriam ser o indicador para mostrar que se faz necessário enfrentar certas situações, afim de eliminar sentimentos desagradáveis.
Alguns mecanismos de defesa são considerados mais “elaborativos”. Isso significa que usá-los pode ser mais evolutivo. Mesmo a longo prazo, eles podem não ser particularmente prejudiciais para sua saúde emocional ou mental. Dois desses mecanismos são a intelectualização e a sublimação.
Outros mecanismos de defesa, entretanto, não são elaborativos. O uso prolongado deles pode causar problemas emocionais afetando o relacionamento consigo mesmo, criando problemas de saúde mental como depressão e ansiedade e, com o passar do tempo, afetar os relacionamentos com outras pessoas.
É como mentir para si mesmo mediante aos conteúdos emocionais com os quais não se consegue lidar.
A ajuda profissional de um psicoterapeuta pode ser muito importante pois como disse acima, adotamos e usamos os mecanismos de defesa na maioria das vezes de forma inconsciente.
O caminho para melhorar é identificar quais mecanismos se tem usado e, quais são os conteúdos que motivam o uso deles. Somente através da elaboração é possível ser cada vez mais autêntico diante de si, estabelecendo relações mais harmonizadas e sustentáveis em todas as áreas da vida.
Lembre-se, o processo de mudança pode doer, mas não mudar só vai fazer aumentar a dor.
Por Silvio Oliveira