Mas qual a relação entre motivação e felicidade?

Na verdade, para tudo que se faz é necessário motivação. E veremos abaixo que a forma como nos motivamos tem impacto direto sobre o quanto se é feliz.

Desde o abrir dos olhos pela manhã, se levantar, ir ao banheiro, tomar um banho, tomar café, escolher a roupa para vestir, ir ao trabalho, etc, até a hora de dormir novamente tudo precisou de motivação.

Tirando ações involuntárias do nosso próprio organismo como por exemplo respirar, a digestão e uma série de outras funções que nosso corpo cumpre autonomamente, as demais ações que dependem de nossa decisão acontecem porque houve uma motivação em torno da ação.

Eu sei que talvez possa confundir um pouco pois, a palavra motivação acabou virando sinônimo de fazer algo com aparente disposição, empenho e prazer.

Mas na verdade, para toda e qualquer realização na vida é preciso um processo de motivação, independentemente de haver prazer ou não durante a ação.

Assim para que o processo de motivação se estabeleça e se conclua são necessárias algumas etapas:

  • Estímulo: causado pela falta, desejo ou anseio de algo.

Somos estimulados pelos apetites do corpo (necessidades fisiológicas) ou necessidades psicológicas (ex.:segurança, reconhecimento).

  • Realização: materialização, resultado no campo físico ou mental.

Para tornar mais claro o entendimento me apoiarei no ideograma de competência, o “CHA” (conhecimento, habilidade, atitude), porém de forma adaptada conforme abaixo:

2.1 – Conhecimento: saber, ter consciência dos meios necessários;

 2.2.- Habilidade: saber fazer, dominar os meios para realizar aquilo que é necessário para alcançar o que busco para suprir a falta, anseio ou desejo que sinto;

 2.3 – Energia: disponibilização, investimento, direcionamento de energia para executar a ação (a energia sempre estará direcionada para onde, e no que, damos foco e atenção);

 2.4 – Atitude: iniciativa, querer fazer, sair da inércia, dar o primeiro passo;

 2.5 – Ação: acabativa, fazer até concluir. É a materialização daquilo que sonhei e idealizei. É a conclusão dessa fase que vai nos levar a autorrealização.

Infelizmente é muito comum iniciar algo e não concluir.

Quando isso ocorre, significa que de alguma forma a energia inicialmente investida para essa realização foi redirecionada para outro foco.

Pode até ser que redirecionada para outro processo de motivação, mas uma vez que o processo de motivação chegou até a fase da “Atitude” e depois foi interrompido, normalmente significa que essa energia terá sido redirecionada para lidar com alguma crença limitante (autoestima), para lidar com experiências desagradáveis não elaboradas (mágoas, culpas, lutos) ou para lidar com inseguranças a respeito do futuro (medos, ansiedade).

O termo mais usado para isso é a autossabotagem.

  • Autorrealização: é o objetivo, o propósito final da motivação. São os sentimentos, necessários para restaurar o equilíbrio da tensão interna gerada pela falta ou desejo de algo.

Ao concluir a etapa “Realização” com êxito, e se ela era o meio adequado para atingir os fins (Autorrealização), sentiremos bem estar, satisfação ou prazer.

Se caso o meio estabelecido foi inadequado, ao invés de bem estar e satisfação virá um sentimento de frustação.

Já passaram por isso alguma vez? Sensação de que erraram o alvo?  De comprar algo, conquistar alguém, conquistar um corpo bonito, etc e, após ter conseguido não se sentir feliz?

Pois é, a felicidade é diretamente proporcional ao nível de autorrealização que sentimos. Por isso, se empenhar em perceber de forma clara o que de fato pode proporcionar felicidade é essencial para não desperdiçar energia e tempo.

Infelizmente, a busca por satisfação e bem estar fora de nós mesmos nem sempre é bem sucedida.

Outro ponto importante sobre a Autorrealização é que nem sempre se busca bem estar e satisfação, as vezes se busca alívio.

A motivação acontece na busca por conquistar algo bom ou na busca por evitar algo ruim, sendo mais claro, ou faço pra me dar bem (fora do contexto de levar vantagem) ou faço para evitar me dar mal.

Basta lembrar de tantas coisas que já fizemos na vida de maneira contrariada, porque fomos “obrigados” a fazer (por causa dos pais, cônjuges, chefes, etc). E porque se não fosse feito, ao invés de bem estar, haveria mal estar, ou seja, fiz pra não me dar mal.

Os dois tipos de motivação abaixo expressam bem o potencial de felicidade em nossas motivações:

 Motivação baseada nas necessidades básicas;

A tensão interna gerada pelo estímulo (falta, desejo), só se encerra com a conclusão e êxito da ação através da Autorrealização e o bem estar ou alívio por ela proporcionada. O sentimento de bem estar ou alívio dura pouco tempo, ou seja, até a ser restaurado o equilíbrio interno.

Todos operamos predominantemente dentro desse conceito de motivação: demanda (incomodo pela falta ou desejo) e atendimento (satisfação ou alívio).

Nesse tipo de motivação tudo se faz em pró de se concluir a realização pois somente assim é que a “recompensa” virá, ou seja, o esforço é recompensado pela autorrealização. É uma experiência “meio”.

Podemos usar vários exemplos como: a ação de limpar a casa não é gostosa porém ao terminar vou usufruir de um bem estar; a ação de trabalhar é uma contrariedade imensa mas ao receber o salário usufruo do bem estar por ele proporcionado; o estudar é muito chato mas é compensado com o sentimento de esperança de um emprego e salário melhor, etc

 Motivação baseada nas necessidades de crescimento

Enquanto a motivação baseada nas necessidades básicas tem seu propósito e auge na autorrealização, na motivação baseada nas necessidades de crescimento o seu auge se dá durante a realização, a experiência em si é seu maior propósito, é uma experiência “fim”. Abraham Maslow chamou de peak-experiences (experiências culminantes).

A pessoa nas experiências culminantes sente-se no auge de seus poderes, usando todas as suas capacidades da melhor e da mais completa forma.”

“Essas pessoas tornam-se muito mais auto-suficientes e senhoras de si. As determinantes que as governam são agora, primordialmente, de natureza interna, em vez de sociais ou ambientais. Elas são as leis de sua própria natureza íntima, de suas potencialidades e capacidades, seus talentos, seus recursos latentes, seus impulsos criadores, suas necessidades de se conhecerem a si próprias e de se tornarem cada vez mais integradas e unificadas, cada vez mais cônscias do que realmente são, do que realmente querem, da natureza de sua vocação ou destino.”

Na mesma linha Mihaly Csikszentmihalyi propõe algo similar, o estado de flow:

… um estado mental que acontece quando uma pessoa realiza uma atividade e se sente totalmente absorvida em uma sensação de energia, prazer e foco total no que está fazendo. Em essência, o flow é caracterizado pela imersão completa no que se faz, e por uma consequente perda do sentido de espaço e tempo.”

É lógico que as necessidades de segurança são prepotentes sobre as necessidades do crescimento, mas se considerarmos os momentos de autorrealização através de satisfação e prazer (que proporcionam felicidade) em relação aos momentos de autorrealização através do “alívio”, podemos ter alguma ideia do quanto podemos aumentar os momentos de felicidade.

Ao se pensar ainda na possibilidade de viver as “experiências culminantes”, veremos que existe um grande potencial para tornar a felicidade mais presente em nossa vida.

Aqui não cabe a ilusão de achar que é fácil mas, sim a certeza de que através da determinação e do entusiasmo (in+theos = o divino dentro), é que a força de vontade de cada um (energia investida) pode criar os melhores “meios” para alcançar os melhores “fins”.

Por Silvio Oliveira

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